segunda-feira, 21 de março de 2011
sábado, 15 de janeiro de 2011
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
O Ministério da Cultura promoveu no período de 03 a 07 de setembro de 2010 a 1ª Reunião Técnica sobre Diversidade Cultural, com representantes dos 10 países da América do Sul membros do Mercosul Cultural. A reunião aconteceu em conjunto com o Encontro da Diversidade – Independência da Cultura. O evento aconteceu no bairro da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro e contou com a participação de representantes dos 10 países do Mercosul sobre a Diversidade Cultural.
O evento teve como proposta discutir e celebrar as identidades, a convivência harmônica com as diferenças, e o exercício da cidadania. A convivência harmônica entre as diferenças ainda se apresenta como um dos maiores desafios contemporâneos, tanto do ponto de vista político, quanto social e cultural. A diversidade cultural tem sido celebrada ultimamente, mas sua simples exposição não gera, automaticamente, o respeito pelo outro, e pode até mesmo acirrar conflitos pré-existentes e criar outros, novos e mais complexos. A visibilidade da diversidade cultural só será uma ferramenta importante para a construção de uma sociedade mais solidária e harmônica, se for associada à educação, à solidariedade, ao diálogo, ao entendimento e ao respeito à diferença.
Foram abordados os seguintes temas no Encontro: Diversidade Cultural e Políticas Públicas de Cultura do Mercosul; Diversidade Cultural e Educação; Diversidade Cultural e Direitos Humanos. O evento contou com a participação de grupos representantes das Culturas Populares, de Comunidades e Povos Tradicionais (Indígenas, Ciganos e Povos Tradicionais de Terreiro), de grupos etários e pesquisadores sobre o tema (infância, juventude e idosos), de movimentos sociais (pessoas com deficiência, luta antimanicomial e trabalhadores) e dos movimentos sociais de gênero (mulheres e LGBT).
A programação foi intensa durante o dia e a noite contou com várias apresentações de grupos artísticos representantes da diversidade cultural. A abertura do evento foi marcada por um grande cortejo nas ruas da Lapa com bonecos gigantes e a Cobra Grande, com 50m de comprimento, vindos de Olinda (PE), entre outros grupos. Grupos de todo o país estiveram presentes no Encontro da Diversidade.
O convite para participar desse encontro foi uma grande oportunidade de presenciar manifestações artísticas e culturais, falar do trabalho desenvolvido, discutir sobre os temas propostos, e ao mesmo tempo, conhecer as propostas políticas para a Diversidade Cultural.
Quem quiser conhecer um pouquinho das apresentações artísticas presentes no evento é só acessar a página: http://www.youtube.com/sidcultura
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Expressão Corporal - Klaus Vianna
Transcrição do manuscrito
(Expressão Corporal)
Corpo
Klauss Vianna
Eu e você somos criaturas do reino animal. Eu e você somos levados constantemente por desejos que crescem dentro de nós e não pertencem a nossa escolha consciente. Eu e você somos compelidos a agir para satisfazer e saciar estes desejos, e devemos algumas vezes testar com o nosso ambiente para satisfazê-los. E quando eles estão satisfeitos, eu e você - como todos os grandes animais - sentimos repouso, uma felicidade e uma paz que só deverá um pouco - à medida que nosso corpo abre caminho através do tempo e que o mundo circundante se transforma e nos acene com novas situações e estímulos, sentimos novas explosões e organização de novas tensões e somos compelidos mais uma vez à ação e à procura de novas satisfações sem fim. Não há nenhuma felicidade final - ela está sempre mudando - mas não há infelicidade definitiva - pois ela também está mudando. E a existência é exatamente este pêndulo sempre renovado, sempre balançando entre satisfações que se acalmam e ondas de desejo que nos acordam. O problema para muitos reside no indizível - para muitas pessoas a palavra revolucionário é assustadora. Como nossos jovens reconhecem são milhares as pessoas que se perturbam quando vêem ou ouvem palavras como liberação e radical e o mesmo acontece com palavras como trepar, bunda e buceta... São palavras amedrontadoras, trazendo de imediato uma certa reação somática.
Notaram uma espécie de mal estar na sala quando elas foram ditas? Melhor ainda, notaram como essas palavras saltaram por si mesmas e atraíram olhares?
Você viu-as talvez antes mesmo de procurar alguma coisa no ar - Se isto aconteceu, então você já aprendeu alguma coisa sobre o corpo - o seu corpo - suas reações extraordinariamente agudas para tudo o que é de interesse no seu ambiente. Você também terá apreendido alguma coisa sobre percepção e sobre como "vemos" e "ouvimos" e geralmente sentimos muito mais e mais rapidamente do que a chamada "mente" ou "consciência" percebe. Estas palavras todo o nosso ser corporal percebe e distingue imediatamente as coisas no nosso meio ambiente e agudamente organiza a nossa atenção consciente a fim de que possamos encarar defensivamente a ameaça e lidar com ela de alguma maneira. Essa rápida dupla tensão de percepção, defesa inconsciente é o que chamamos de resistência ou repressão - Nós podemos dizer no que concerne a vida afetiva a tomada de consciência de nossas emoções é inseparável da tomada de consciência de nossas manifestações corporais, podendo então dizer que a nossa imagem é a imagem de nosso corpo.
Nós, mesmos, nosso eu, está dentro dos outros com os quais nos identificamos. Nossas imagens internas ou nossas figuras inconsciente não estão só dentro de nós, encontram-se também por fora de nós, envolvendo-nos e infernizando-nos.
Sendo verdade que as coisas que passam assim, então compreenderemos facilmente porque lutamos para conservar nossas imagens "ditas interiores". E na prática é impossível separar minha atitude de minha postura.
Recordemos que a musculatura do tronco envolve totalmente as vísceras, ao modo como o útero envolve o feto. Nosso íntimo está protegido por uma camada de carne quente, elástica, capaz de se adensar, criando em torno de nossos órgãos vitais uma parede assaz resistente - contrair nossa musculatura é a primeira reação defensiva contra qualquer espécie de agressão ou perigo seja de físico ou psíquico.
Contraímos nossos músculos porque assim envolvemos nossos centros vitais de uma parede resistente. Contraímo-los, porque se a ameaça se fizer avassaladora contraindo-nos de todo, diminuímos nosso volume e nos fazemos compactos. COntraímo-los, enfim, porque assim poderemos conservar nossas posição ereta.
De todos estes modos, os músculos nos defendem. Ora, se todas nossas identificações podem ser evidenciadas em nossos músculos então estas identificações só podem ser sentidas como defesas.
Outrossim sentimo-las também como ameaça ou perigo, sentimo-las como forças que nos tolhem, oprimem, esmagam. Tais expressões se tornam imediatamente claras se compreendidas em função de contrações musculares.
Em particular, sempre que certas identificações se situam em músculos respiratórios, quando elas se ativam, sentimo-nos ameaçados de asfixia - é assim que se pode compreender a angústia, que entre outras coisas é quase sempre uma inibição respiratória.
A bem de teoria, é preciso esclarecer que as atividades humana, enquanto se as considera somatória das tensões musculares, são primeiro constituídas de um número considerável de tensões simultâneas, firmemente integrada nos mecanismos posturais.
O processo de expressão corporal na mesma medida em que vai se verbalizando - tornando as palavras cada vez mais sem sentido, vai ampliando a percepção visual, táctil e motora.
O indivíduo vai aprender a existir em um mundo cada vez mais amplo, mais rico e mais complexo. Basta isto para alterar consideravelmente o sentido das palavras.
Antes as pessoas viviam na convicção de que o dizível é o mais importante ou é quase tudo.
Depois ele percebe que o indizível é maior. Quanto à meta da expressão corporal podemos responder assim: os exercícios livram as pessoas das faixas tensionais e desencadeiam um novo processo de trabalho, e põem na mão das pessoas um bom número de ferramentas ou de instrumentos para que elas trabalhem consigo mesmas.
Que mais se a de querer? É preciso vencer o preconceito segundo o qual as coisas têm fim, têm finalidades, tem uma norma conhecida.
Nada disso é verdade devida. Nada disso poderá ser verdadeiro para a expressão corporal. A justificativa final para todas as terapias (se é que expressão corporal pode ser considerada terapia) que procuram cultivar a sensibilidade - isto é o campo não verbal de personalidade é o seguinte: as partes do corpo, as qualidades das sensações, os gestos, as atitudes, sofrem valorizações muito variadas conforme o povo, a época, a cidade, o bairro, e não poder mostrar ou fazer é um dado básico de qualquer coletividade humana - em nosso mundo não se pode mostrar os seios, nem os órgãos genitais - também não se pode olhar - homem não pode sentir-se nem macho nem dengoso - mulher não pode sentir-se nem decidida nem enérgica.
Carícias de mão na pele, só entre membros da mesma família. Quanto mais próximo dos órgãos genitais, mais íntimo e mais socialmente comprometedor o gesto. Isto faz com que a formosa imagem corporal que é uma das referências fundamentais da personalidade, seja intensamente modelada pelos costumes sociais, perturbando-se as correlações senso motoras que poderiam e deteriam estar na base de nosso relacionamento com o mundo - a expressão corporal tem por finalidade restabelecer estas relações.
Tensão não é de origem exterior, é uma energia que você produz.
Tensão excessiva é uma mensagem não verbal de seu corpo pedindo a você para ser mais receptivo e mais permissível com seu meio ambiente.
As crianças, por natureza, são sensíveis, envoltas numa percepção lúdica e de exploração, experimental, mas ainda percepção.
A educação social e formal pressiona o conhecimento (perceptivo) e as funções motoras do organismo sem consideração ao desenvolvimento sensorial. Ensinamos a elas a não percepção. Esta carência de sensibilidade criadora as dessensibiliza. Um princípio de desequilíbrio se estabelece com a perda de sentimento, insensibilidade, depressão, ansiedade.
Somos organismos compostos de órgãos: olhos, ouvidos, nariz, boca, pele - os nossos 5 sentidos. As crianças são biologicamente organizadas: enxergando, ouvindo, sorrindo, provando, tocando e sentindo, diretamente sem preferências. Nós as condicionamos a especialização: o domínio dos olhos. Eu domino meu organismo através da visão. Quando nos despedimos de alguém, costumamos dizer - "vejo-o mais tarde". Mas nunca os tocamos, cheiramos ou experimentamos este seu mais tarde. Não se vai nunca além de superficial.
A problemática da especialização leva-nos a uma tendência a separação, especialmente quando acompanhada de excessiva reflexão e tensão crônica. A especialização divide o espaço, guarda as coisas à distância (separa-nos do mundo) e cria diferenças. O que seria da questão racial se fôssemos todos cegos? Esta dissociação dos nossos outros sentidos nos torna tensos, desequilibrados e insensíveis. Nós perdemos o contato físico com a mensagem da natureza e com tudo em nossa volta. Comendo congelados, enlatados com sabores artificiais e, por isto, desenvolvendo tão mal nosso paladar. A falta de contato físico na criança leva-a a uma grande irritabilidade e depressão.
Até certo ponto nós tolhemos o desenvolvimento das crianças. Nós as ensinamos que guardem suas mãos para elas mesmas e que elas mesmas não usem estas mãos para explorar seu próprio corpo. Devem conservar a mão longe de outra pessoa, no mínimo um braço esticado de distância um do outro.
Apertar a mão dos outros com cuidado e evitar um contato real. Sexo é a única chance que realmente temos para tocar-nos. E assim mesmo este contato está quase confinado às regiões erógenas.
Não é de admirar que sejamos tensos, ansiosos, alienados; fora do contato integral com todo o corpo, seremos sempre desintegrados, desorganizados. O que precisamos é reintegrar, reorganizar. O despertar do sensorial aliado à pesquisa corporal seria por tese a definição de expressão corporal. Um método que pode ajudá-lo a trazê-lo de volta para todos os seus sentidos: a acalmar uma mente atribulada, a relaxar uma tensão crônica, a engrandecer a realidade sensorial daqui para a frente. Este processo pode ajudá-lo a adquirir maior sensibilidade física e consciente, a torná-la um organismo único abrindo caminho para todo o potencial e possibilidades que estão dentro de você. (músculos agonistas e antagonistas)
É provável que as tensões musculares comecem a se desfazer ou a ceder, na mesma medida em que começam a ser percebidas. Esta proposição se faz clara se recordarmos que o sentido muscular não existe primariamente como informação para ela razão consciente, mas sim como conjunto de sensações profundamente ligadas ao funcionamento dos músculos, a coordenação dos movimentos e a integração das posições.
Começar a perceber tensões já é resolvê-las. [no manuscrito, Klauss riscou os próximos cinco parágrafos] Convém assinalar primeiro aquilo que não adianta fazer e que geralmente é o que se faz. Qualquer pessoa que tenha sua atenção chamada para um constrangimento muscular, logo se põe a fazer movimentos para desfazer o contrangimento de qualquer jeito. O observador externo tem a impressão de que a pessoa quer se livrar da tensão, como alguém que afasta um inseto que pousa na pele. A pessoa parece querer espantar a tensão. Esta técnica serve apenas para barrar a sensação por alguns instantes. Meio minuto depois a tensão será sentida como antes. A segunda coisa que se faz para não resolver tensões musculares é integrá-las num movimento que se faz usual ou num movimento que se faz estereotipado. A pessoa com certa distribuição de tensões no ombro, passa a sentar-se de uma forma majestosa. Interrogada, ela dirá que é seu gesto, era.
Claro que, por mais constante que sejam as tensões musculares, elas nunca são invariáveis como coisas, objetos ou substâncias inanimadas. Por isso, cada pessoa não tem uma, mas várias atitudes típicas. Observando com cuidado as atitudes usuais das pessoas, se faz possível denunciar um número grande de tensões musculares habituais. Das técnicas positivas, lembramos primeiro os sistemas gerais de relaxamento e até a yoga. Estes métodos conseguem relaxar tensões quando realizadas com tonacidade. Mas é preciso dizer que sem efeito sobre conjuntos determinados de tensões é muito incerto. Tenho para mim que estes métodos transpõem as tensões sem resolvê-las, que eles permitem às pessoas um certo repouso em relação às suas posições crônicas mas que, sozinhos, eles não se desfazem. Contudo, esta área é toda muito inerte. O termo tensão já se refez popular e a tensão é justamente tida como causa de muitos males. Alguns dizem tensão nervosa, outros dizem tensão mental, mas o que se percebe com mais clareza é a tensão muscular. O fato do indivíduo estar crispado, prevenido, contrariado; mas nestes termos o conceito é pouco útil. Na verdade não existe uma tensão, mas sim sistemas muito complicados de tensões simultâneas ou sucessivas. É de se supor que a resolução destes sistemas deve ser de algum modo analítico e não genérico.
Não basta relaxar, não é uma questão de relaxar muito ou pouco. A questão é relaxar de certo modo. Um curso ideal de relaxamento, um certo conjunto de tensões - digamos, no pescoço - obedecem às seguintes etapas: uma vez vagamente localizada a tensão, ideal será realizar com o pescoço um número considerável de movimentos aleatórios, de preferência não muito intensos, a fim de, dentro deste conjunto de sensações flutuantes, ir desenhando ou definindo aos poucos as linhas de tensões preponderantes, a forma global do nó (a expressão nó é muito adequada e a usaremos como termo técnico). Na medida em que o nó vai se definindo, o que há de melhor e mais fácil a fazer com ele é tentar reforçá-lo, fazê-lo mais compacto ou mais denso. A razão é muito simples, temos todos um considerável treinamento espontâneo que nos capacita a compor com facilidade conjuntos de tensões musculares. É o que fazemos na execução de qualquer tarefa e de qualquer gesto. Fazer tensões é mais fácil para nós de que desfazê-las. É mais fácil contrair voluntariamente os músculos do que relaxá-los. Por isso é mais fácil inicialmente reforçar o nó do que tentar desfazê-lo.
Os movimentos aleatórios devem prosseguir porque sobre este fundo móvel, o nó vai se desenhando cada vez melhor. Uma vez feita uma estimativa de intensidade das tensões musculares que compõem o nó, deve-se ajustar a intensidade dos esforços que produzem os movimentos aleatórios a um nível adequado. Quando se acertam as intensidades dos esforços, o nó começa a se mostrar em sua verdadeira natureza: um conjunto de tensões musculares, dotado de apreciável autonomia, independente e indiferente à nossa vontade, dotado de uma considerável capacidade de perturbar todos os movimentos da região, de interferir com toda coordenação muscular, de reduzir a sua eficiência. Aos efeitos colaterais muito importantes, se bem que de valores circunstanciais muito diferentes, ele é dotado também de capacidade de perturbar a respiração e o equilíbrio do corpo. Algumas pessoas recomendam preponderantemente uma percepção simples da região, estando a região e o indivíduo imóveis. Neste campo, de muitos modos novos não convém fazer regras fixas, mas é provável que a percepção dinâmica seja mais fácil de realizar e mais eficiente na maioria dos casos. Sobretudo mais fácil de realizar.
Poucas pessoas conseguem se deter dois, três ou mais minutos sobre uma sensação de tensão muscular. Mas a movimentação aleatória, muito parecida com a dança, é feita facilmente e durante muito tempo. Quando trabalhamos com um grupo ou lidamos com pessoas muito pouco alertadas para esta área, é conveniente fazer com que o período de movimentação aleatória seja precedido por um período de exercícios sistemáticos, nos quais todos, ou a maior parte dos movimentos da região sejam executados sob comando do professor.
Mais uma vez a razão é simples: [fim da parte riscada. Recomeça em:] a maior parte das pessoas mexe-se muito pouco ou conhece muito mal a variedade de movimentos que pode executar. Ocorre então um ciclo auto-alimentado e auto-limitante: a rigidez ou a pobreza de atitudes e movimentos impede justamente aquela diversidade de movimentos que é preciso experimentar a fim de perceber que a pessoa é muito limitada de atitudes e movimentos. [no manuscrito, Klauss riscou também o período a seguir:] Durante o período da movimentação dirigido o professor deve fazer correções no sentido de caracterizar dificuldades específicas desta ou daquela pessoa. [fim da parte riscada. Recomeça em:] De regra, as pessoas executam muito mal ordens motoras quando dadas apenas em palavras. Já por imitação visual, as coisas vão melhor, mas os desvios ainda são grandes e fáceis de perceber.
Qualquer tensão muscular tem o sentido genérico de "estar prevenido", pronto para defender ou atacar. Em termos genéricos, toda tensão muscular é de um modo agressiva, contém raiva e exprime raiva. Quando o indivíduo começa a trabalhar em tensão, muitas vezes, ele sente raiva contra ela e ao querer atenuá-la, com raiva, ele a reforça. Ele quer vencer uma raiva menor com uma raiva menor. O que ele faz é substituir uma pequena tensão por uma grande. Se fizermos exercícios musculares, bem dosados, poderemos de princípio alterar atitudes e alterar o comportamento. É claro que nos primeiros momentos de nascimento, as relações fundamentais que a criança estabelece são todas com objetos inanimados: o peso,o ar, o frio. Qualquer movimento que ela faça e qualquer seja a motivação, ou a mecânica deste movimento, ei-la continuamente puxada para baixo, como que amarrada a mil elásticos ao plano de apoio; tudo o que ela faz é contra ação da gravidade. Um instante depois, ela respira pela primeira vez, entrando em contato com a substância mais essencial à vida - o oxigênio. Neste momento, ela inicia um relacionamento com o invisível essencial que é o ar e que durará, exatamente, quanto durar sua vida. O frio, enfim, em relação ao útero o mundo é frio, frio mesmo, pouco ou muitos graus abaixo da temperatura intra-uterina. É neste contexto de coisas impessoais e onipresentes que se desenrola o drama humano da criança, seu relacionamento com os demais seres humanos e com sua família. Pergunto: será que o cenário e o palco não têm nada a ver com o drama? Será que o mundo é um teatro de arena, definido apenas por um círculo no chão? Mesmo se o quisermos assim, mesmo assim ele é um plano de apoio, mesmo então pisamos contra o solo, movemo-nos e nos equilibramos contra o contínuo apelo da terra que nos chama para baixo, que nos convida a deitar e no ar ao apelo do espírito que nos envolve e nos ampara e nos chama para o reino de luz e do sol.
Podem os personagens humanos estar em lugar nenhum, sem apoio, sem espaço e sem tempo? Só uma classe de coisa pode existir: palavras. Palavras não pesam. Não é o inconsciente, nem são os seres humanos os desligados, os que pairam no vazio, os que são processos interiores e mais nada. As palavras são assim. E só elas. É muito importante não confundir as palavras com as coisas.
Klauss Vianna
Introdutor da Expressão Corporal no Teatro Brasileiro.
Professor de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Prêmio Molière de Teatro.
texto retirado do site http://www.klaussvianna.art.br
(Expressão Corporal)
Corpo
Klauss Vianna
Eu e você somos criaturas do reino animal. Eu e você somos levados constantemente por desejos que crescem dentro de nós e não pertencem a nossa escolha consciente. Eu e você somos compelidos a agir para satisfazer e saciar estes desejos, e devemos algumas vezes testar com o nosso ambiente para satisfazê-los. E quando eles estão satisfeitos, eu e você - como todos os grandes animais - sentimos repouso, uma felicidade e uma paz que só deverá um pouco - à medida que nosso corpo abre caminho através do tempo e que o mundo circundante se transforma e nos acene com novas situações e estímulos, sentimos novas explosões e organização de novas tensões e somos compelidos mais uma vez à ação e à procura de novas satisfações sem fim. Não há nenhuma felicidade final - ela está sempre mudando - mas não há infelicidade definitiva - pois ela também está mudando. E a existência é exatamente este pêndulo sempre renovado, sempre balançando entre satisfações que se acalmam e ondas de desejo que nos acordam. O problema para muitos reside no indizível - para muitas pessoas a palavra revolucionário é assustadora. Como nossos jovens reconhecem são milhares as pessoas que se perturbam quando vêem ou ouvem palavras como liberação e radical e o mesmo acontece com palavras como trepar, bunda e buceta... São palavras amedrontadoras, trazendo de imediato uma certa reação somática.
Notaram uma espécie de mal estar na sala quando elas foram ditas? Melhor ainda, notaram como essas palavras saltaram por si mesmas e atraíram olhares?
Você viu-as talvez antes mesmo de procurar alguma coisa no ar - Se isto aconteceu, então você já aprendeu alguma coisa sobre o corpo - o seu corpo - suas reações extraordinariamente agudas para tudo o que é de interesse no seu ambiente. Você também terá apreendido alguma coisa sobre percepção e sobre como "vemos" e "ouvimos" e geralmente sentimos muito mais e mais rapidamente do que a chamada "mente" ou "consciência" percebe. Estas palavras todo o nosso ser corporal percebe e distingue imediatamente as coisas no nosso meio ambiente e agudamente organiza a nossa atenção consciente a fim de que possamos encarar defensivamente a ameaça e lidar com ela de alguma maneira. Essa rápida dupla tensão de percepção, defesa inconsciente é o que chamamos de resistência ou repressão - Nós podemos dizer no que concerne a vida afetiva a tomada de consciência de nossas emoções é inseparável da tomada de consciência de nossas manifestações corporais, podendo então dizer que a nossa imagem é a imagem de nosso corpo.
Nós, mesmos, nosso eu, está dentro dos outros com os quais nos identificamos. Nossas imagens internas ou nossas figuras inconsciente não estão só dentro de nós, encontram-se também por fora de nós, envolvendo-nos e infernizando-nos.
Sendo verdade que as coisas que passam assim, então compreenderemos facilmente porque lutamos para conservar nossas imagens "ditas interiores". E na prática é impossível separar minha atitude de minha postura.
Recordemos que a musculatura do tronco envolve totalmente as vísceras, ao modo como o útero envolve o feto. Nosso íntimo está protegido por uma camada de carne quente, elástica, capaz de se adensar, criando em torno de nossos órgãos vitais uma parede assaz resistente - contrair nossa musculatura é a primeira reação defensiva contra qualquer espécie de agressão ou perigo seja de físico ou psíquico.
Contraímos nossos músculos porque assim envolvemos nossos centros vitais de uma parede resistente. Contraímo-los, porque se a ameaça se fizer avassaladora contraindo-nos de todo, diminuímos nosso volume e nos fazemos compactos. COntraímo-los, enfim, porque assim poderemos conservar nossas posição ereta.
De todos estes modos, os músculos nos defendem. Ora, se todas nossas identificações podem ser evidenciadas em nossos músculos então estas identificações só podem ser sentidas como defesas.
Outrossim sentimo-las também como ameaça ou perigo, sentimo-las como forças que nos tolhem, oprimem, esmagam. Tais expressões se tornam imediatamente claras se compreendidas em função de contrações musculares.
Em particular, sempre que certas identificações se situam em músculos respiratórios, quando elas se ativam, sentimo-nos ameaçados de asfixia - é assim que se pode compreender a angústia, que entre outras coisas é quase sempre uma inibição respiratória.
A bem de teoria, é preciso esclarecer que as atividades humana, enquanto se as considera somatória das tensões musculares, são primeiro constituídas de um número considerável de tensões simultâneas, firmemente integrada nos mecanismos posturais.
O processo de expressão corporal na mesma medida em que vai se verbalizando - tornando as palavras cada vez mais sem sentido, vai ampliando a percepção visual, táctil e motora.
O indivíduo vai aprender a existir em um mundo cada vez mais amplo, mais rico e mais complexo. Basta isto para alterar consideravelmente o sentido das palavras.
Antes as pessoas viviam na convicção de que o dizível é o mais importante ou é quase tudo.
Depois ele percebe que o indizível é maior. Quanto à meta da expressão corporal podemos responder assim: os exercícios livram as pessoas das faixas tensionais e desencadeiam um novo processo de trabalho, e põem na mão das pessoas um bom número de ferramentas ou de instrumentos para que elas trabalhem consigo mesmas.
Que mais se a de querer? É preciso vencer o preconceito segundo o qual as coisas têm fim, têm finalidades, tem uma norma conhecida.
Nada disso é verdade devida. Nada disso poderá ser verdadeiro para a expressão corporal. A justificativa final para todas as terapias (se é que expressão corporal pode ser considerada terapia) que procuram cultivar a sensibilidade - isto é o campo não verbal de personalidade é o seguinte: as partes do corpo, as qualidades das sensações, os gestos, as atitudes, sofrem valorizações muito variadas conforme o povo, a época, a cidade, o bairro, e não poder mostrar ou fazer é um dado básico de qualquer coletividade humana - em nosso mundo não se pode mostrar os seios, nem os órgãos genitais - também não se pode olhar - homem não pode sentir-se nem macho nem dengoso - mulher não pode sentir-se nem decidida nem enérgica.
Carícias de mão na pele, só entre membros da mesma família. Quanto mais próximo dos órgãos genitais, mais íntimo e mais socialmente comprometedor o gesto. Isto faz com que a formosa imagem corporal que é uma das referências fundamentais da personalidade, seja intensamente modelada pelos costumes sociais, perturbando-se as correlações senso motoras que poderiam e deteriam estar na base de nosso relacionamento com o mundo - a expressão corporal tem por finalidade restabelecer estas relações.
Tensão não é de origem exterior, é uma energia que você produz.
Tensão excessiva é uma mensagem não verbal de seu corpo pedindo a você para ser mais receptivo e mais permissível com seu meio ambiente.
As crianças, por natureza, são sensíveis, envoltas numa percepção lúdica e de exploração, experimental, mas ainda percepção.
A educação social e formal pressiona o conhecimento (perceptivo) e as funções motoras do organismo sem consideração ao desenvolvimento sensorial. Ensinamos a elas a não percepção. Esta carência de sensibilidade criadora as dessensibiliza. Um princípio de desequilíbrio se estabelece com a perda de sentimento, insensibilidade, depressão, ansiedade.
Somos organismos compostos de órgãos: olhos, ouvidos, nariz, boca, pele - os nossos 5 sentidos. As crianças são biologicamente organizadas: enxergando, ouvindo, sorrindo, provando, tocando e sentindo, diretamente sem preferências. Nós as condicionamos a especialização: o domínio dos olhos. Eu domino meu organismo através da visão. Quando nos despedimos de alguém, costumamos dizer - "vejo-o mais tarde". Mas nunca os tocamos, cheiramos ou experimentamos este seu mais tarde. Não se vai nunca além de superficial.
A problemática da especialização leva-nos a uma tendência a separação, especialmente quando acompanhada de excessiva reflexão e tensão crônica. A especialização divide o espaço, guarda as coisas à distância (separa-nos do mundo) e cria diferenças. O que seria da questão racial se fôssemos todos cegos? Esta dissociação dos nossos outros sentidos nos torna tensos, desequilibrados e insensíveis. Nós perdemos o contato físico com a mensagem da natureza e com tudo em nossa volta. Comendo congelados, enlatados com sabores artificiais e, por isto, desenvolvendo tão mal nosso paladar. A falta de contato físico na criança leva-a a uma grande irritabilidade e depressão.
Até certo ponto nós tolhemos o desenvolvimento das crianças. Nós as ensinamos que guardem suas mãos para elas mesmas e que elas mesmas não usem estas mãos para explorar seu próprio corpo. Devem conservar a mão longe de outra pessoa, no mínimo um braço esticado de distância um do outro.
Apertar a mão dos outros com cuidado e evitar um contato real. Sexo é a única chance que realmente temos para tocar-nos. E assim mesmo este contato está quase confinado às regiões erógenas.
Não é de admirar que sejamos tensos, ansiosos, alienados; fora do contato integral com todo o corpo, seremos sempre desintegrados, desorganizados. O que precisamos é reintegrar, reorganizar. O despertar do sensorial aliado à pesquisa corporal seria por tese a definição de expressão corporal. Um método que pode ajudá-lo a trazê-lo de volta para todos os seus sentidos: a acalmar uma mente atribulada, a relaxar uma tensão crônica, a engrandecer a realidade sensorial daqui para a frente. Este processo pode ajudá-lo a adquirir maior sensibilidade física e consciente, a torná-la um organismo único abrindo caminho para todo o potencial e possibilidades que estão dentro de você. (músculos agonistas e antagonistas)
É provável que as tensões musculares comecem a se desfazer ou a ceder, na mesma medida em que começam a ser percebidas. Esta proposição se faz clara se recordarmos que o sentido muscular não existe primariamente como informação para ela razão consciente, mas sim como conjunto de sensações profundamente ligadas ao funcionamento dos músculos, a coordenação dos movimentos e a integração das posições.
Começar a perceber tensões já é resolvê-las. [no manuscrito, Klauss riscou os próximos cinco parágrafos] Convém assinalar primeiro aquilo que não adianta fazer e que geralmente é o que se faz. Qualquer pessoa que tenha sua atenção chamada para um constrangimento muscular, logo se põe a fazer movimentos para desfazer o contrangimento de qualquer jeito. O observador externo tem a impressão de que a pessoa quer se livrar da tensão, como alguém que afasta um inseto que pousa na pele. A pessoa parece querer espantar a tensão. Esta técnica serve apenas para barrar a sensação por alguns instantes. Meio minuto depois a tensão será sentida como antes. A segunda coisa que se faz para não resolver tensões musculares é integrá-las num movimento que se faz usual ou num movimento que se faz estereotipado. A pessoa com certa distribuição de tensões no ombro, passa a sentar-se de uma forma majestosa. Interrogada, ela dirá que é seu gesto, era.
Claro que, por mais constante que sejam as tensões musculares, elas nunca são invariáveis como coisas, objetos ou substâncias inanimadas. Por isso, cada pessoa não tem uma, mas várias atitudes típicas. Observando com cuidado as atitudes usuais das pessoas, se faz possível denunciar um número grande de tensões musculares habituais. Das técnicas positivas, lembramos primeiro os sistemas gerais de relaxamento e até a yoga. Estes métodos conseguem relaxar tensões quando realizadas com tonacidade. Mas é preciso dizer que sem efeito sobre conjuntos determinados de tensões é muito incerto. Tenho para mim que estes métodos transpõem as tensões sem resolvê-las, que eles permitem às pessoas um certo repouso em relação às suas posições crônicas mas que, sozinhos, eles não se desfazem. Contudo, esta área é toda muito inerte. O termo tensão já se refez popular e a tensão é justamente tida como causa de muitos males. Alguns dizem tensão nervosa, outros dizem tensão mental, mas o que se percebe com mais clareza é a tensão muscular. O fato do indivíduo estar crispado, prevenido, contrariado; mas nestes termos o conceito é pouco útil. Na verdade não existe uma tensão, mas sim sistemas muito complicados de tensões simultâneas ou sucessivas. É de se supor que a resolução destes sistemas deve ser de algum modo analítico e não genérico.
Não basta relaxar, não é uma questão de relaxar muito ou pouco. A questão é relaxar de certo modo. Um curso ideal de relaxamento, um certo conjunto de tensões - digamos, no pescoço - obedecem às seguintes etapas: uma vez vagamente localizada a tensão, ideal será realizar com o pescoço um número considerável de movimentos aleatórios, de preferência não muito intensos, a fim de, dentro deste conjunto de sensações flutuantes, ir desenhando ou definindo aos poucos as linhas de tensões preponderantes, a forma global do nó (a expressão nó é muito adequada e a usaremos como termo técnico). Na medida em que o nó vai se definindo, o que há de melhor e mais fácil a fazer com ele é tentar reforçá-lo, fazê-lo mais compacto ou mais denso. A razão é muito simples, temos todos um considerável treinamento espontâneo que nos capacita a compor com facilidade conjuntos de tensões musculares. É o que fazemos na execução de qualquer tarefa e de qualquer gesto. Fazer tensões é mais fácil para nós de que desfazê-las. É mais fácil contrair voluntariamente os músculos do que relaxá-los. Por isso é mais fácil inicialmente reforçar o nó do que tentar desfazê-lo.
Os movimentos aleatórios devem prosseguir porque sobre este fundo móvel, o nó vai se desenhando cada vez melhor. Uma vez feita uma estimativa de intensidade das tensões musculares que compõem o nó, deve-se ajustar a intensidade dos esforços que produzem os movimentos aleatórios a um nível adequado. Quando se acertam as intensidades dos esforços, o nó começa a se mostrar em sua verdadeira natureza: um conjunto de tensões musculares, dotado de apreciável autonomia, independente e indiferente à nossa vontade, dotado de uma considerável capacidade de perturbar todos os movimentos da região, de interferir com toda coordenação muscular, de reduzir a sua eficiência. Aos efeitos colaterais muito importantes, se bem que de valores circunstanciais muito diferentes, ele é dotado também de capacidade de perturbar a respiração e o equilíbrio do corpo. Algumas pessoas recomendam preponderantemente uma percepção simples da região, estando a região e o indivíduo imóveis. Neste campo, de muitos modos novos não convém fazer regras fixas, mas é provável que a percepção dinâmica seja mais fácil de realizar e mais eficiente na maioria dos casos. Sobretudo mais fácil de realizar.
Poucas pessoas conseguem se deter dois, três ou mais minutos sobre uma sensação de tensão muscular. Mas a movimentação aleatória, muito parecida com a dança, é feita facilmente e durante muito tempo. Quando trabalhamos com um grupo ou lidamos com pessoas muito pouco alertadas para esta área, é conveniente fazer com que o período de movimentação aleatória seja precedido por um período de exercícios sistemáticos, nos quais todos, ou a maior parte dos movimentos da região sejam executados sob comando do professor.
Mais uma vez a razão é simples: [fim da parte riscada. Recomeça em:] a maior parte das pessoas mexe-se muito pouco ou conhece muito mal a variedade de movimentos que pode executar. Ocorre então um ciclo auto-alimentado e auto-limitante: a rigidez ou a pobreza de atitudes e movimentos impede justamente aquela diversidade de movimentos que é preciso experimentar a fim de perceber que a pessoa é muito limitada de atitudes e movimentos. [no manuscrito, Klauss riscou também o período a seguir:] Durante o período da movimentação dirigido o professor deve fazer correções no sentido de caracterizar dificuldades específicas desta ou daquela pessoa. [fim da parte riscada. Recomeça em:] De regra, as pessoas executam muito mal ordens motoras quando dadas apenas em palavras. Já por imitação visual, as coisas vão melhor, mas os desvios ainda são grandes e fáceis de perceber.
Qualquer tensão muscular tem o sentido genérico de "estar prevenido", pronto para defender ou atacar. Em termos genéricos, toda tensão muscular é de um modo agressiva, contém raiva e exprime raiva. Quando o indivíduo começa a trabalhar em tensão, muitas vezes, ele sente raiva contra ela e ao querer atenuá-la, com raiva, ele a reforça. Ele quer vencer uma raiva menor com uma raiva menor. O que ele faz é substituir uma pequena tensão por uma grande. Se fizermos exercícios musculares, bem dosados, poderemos de princípio alterar atitudes e alterar o comportamento. É claro que nos primeiros momentos de nascimento, as relações fundamentais que a criança estabelece são todas com objetos inanimados: o peso,o ar, o frio. Qualquer movimento que ela faça e qualquer seja a motivação, ou a mecânica deste movimento, ei-la continuamente puxada para baixo, como que amarrada a mil elásticos ao plano de apoio; tudo o que ela faz é contra ação da gravidade. Um instante depois, ela respira pela primeira vez, entrando em contato com a substância mais essencial à vida - o oxigênio. Neste momento, ela inicia um relacionamento com o invisível essencial que é o ar e que durará, exatamente, quanto durar sua vida. O frio, enfim, em relação ao útero o mundo é frio, frio mesmo, pouco ou muitos graus abaixo da temperatura intra-uterina. É neste contexto de coisas impessoais e onipresentes que se desenrola o drama humano da criança, seu relacionamento com os demais seres humanos e com sua família. Pergunto: será que o cenário e o palco não têm nada a ver com o drama? Será que o mundo é um teatro de arena, definido apenas por um círculo no chão? Mesmo se o quisermos assim, mesmo assim ele é um plano de apoio, mesmo então pisamos contra o solo, movemo-nos e nos equilibramos contra o contínuo apelo da terra que nos chama para baixo, que nos convida a deitar e no ar ao apelo do espírito que nos envolve e nos ampara e nos chama para o reino de luz e do sol.
Podem os personagens humanos estar em lugar nenhum, sem apoio, sem espaço e sem tempo? Só uma classe de coisa pode existir: palavras. Palavras não pesam. Não é o inconsciente, nem são os seres humanos os desligados, os que pairam no vazio, os que são processos interiores e mais nada. As palavras são assim. E só elas. É muito importante não confundir as palavras com as coisas.
Klauss Vianna
Introdutor da Expressão Corporal no Teatro Brasileiro.
Professor de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Prêmio Molière de Teatro.
texto retirado do site http://www.klaussvianna.art.br
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
Bem Vindo ao Novo Blog
Por questões técnicas mudamos de blog.
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